sábado, 17 de maio de 2008


Brinca de mim...

Brinca de mim...
faz de mim tua musa
tua blusa
faz de mim teu delírio
teu tormento
faz de mim tua alegria
teu lamento
faz de mim teu sonho
teu encantamento
Brinca de mim...
faz de mim
teu sol
teu mar
tua noite de luar
faz de mim a melhor parte
do que tu mesmo poderías ser
brinca de mim
faz de mim
teu tudo
teu querer
brinca de mim...
vem me fazer reviver
vem...brinca de mim
pra que eu possa
me deleitar em você.
Rosane Silveira às 08:07 do dia 21/10/07
(direitos autorais reservados a autora)
Decidi que raramente postaria algo de algum autor aqui, mas abro um parentese pra esse homem extraordinário o nosso mestre o Grande Artur da Távola a quem tenho muito respeito.
Infelizmente os bons vão sempre antes da hora, mas melhor ainda que sempre nos deixam legados inesquecíveis.


A Mulher Sofrida

Por: Artur da Távola -
Olho para ela e leio, em seu rosto triste, as marcas da vida e da mão que prostra. Sei o que sofreu, um sofrimento entretanto ambíguo que, ao mesmo tempo, lacera a carne, decepa alegrias, estrutura resistências e sabedorias. Tento entendê-la, esta mulher sofrida. Quem é. Como é.Sofrida é a mulher por quem a vida passou, machucando uma sensibilidade menina, feita de dádiva, confiança no próximo, esperança de melhorar o mundo.Sofrida é a mulher que não viveu em vão, na delícia burguesa de ser objeto de sexo, admiração fácil ou mimo, preferindo o caminho penoso da independência, a procura honrada da própria dimensão pessoal, existencial, política. Sofrida é a mulher que tem energia e nervos para enfrentar na carne todas as disposições e contradições necessárias a viver e a conquistar o direito à vida, à liberdade, à solidão, ao afeto dos seus. Sofrida é a mulher de uma geração que assistiu à castração de seu sonho político, embora o veja crescendo, melhorando e se transformando pelo mundo afora. Sofrida é a mulher que viveu várias décadas em cada uma das três últimas. É a pessoa que soube incorporar ao seu viver as dores necessárias à libertação dos preconceitos próprios e alheios; dos atrasos ancestrais; da dor de viver adiante no tempo; das agressões retrógradas; das maldades profissionais; do medo da sua mensagem renovadora. Sofrida é a mulher que assistiu à queda de muitos, ao cansaço de outros, à morte de terceiros, à dor, à tortura, ao vício, à desistência, à loucura, à resistência, à tenacidade, ou à convicção de todos os que se insurgiram contra qualquer forma de agressão humana, de opressão ou de injustiça. Sofrida é a mulher que aí está, cada vez melhor, porque de costas eretas a despeito de tudo o que viu, sofreu e passou. E passa.Sofrida é a mulher que não desistiu de ser; não se alienou; não fugiu da dor; e até se embelezou com as rugas conseguidas; é a que se purificou com as impurezas que em si descobriu e mergulhou com igual coragem na miséria e grandeza, saindo melhor de ambas.

Por: Rosane Silveira